Dispepsia Funcional
Cerca de 20 a 30% dos adultos, no mundo ocidental, têm Dispepsia
Funcional. Chamamos dispepsia e indigestão a um conjunto de sintomas
relacionados com o estômago. Funcional está alterada a função mas não
se observam alterações da estrutura nem da bioquímica.
A maior parte das pessoas com queixas do estômago, submetidas a
endoscopia alta, não têm nenhuma alteração que justifique as suas
queixas, o que sugere a possibilidade de terem Dispepsia Funcional. Na
Dispepsia Funcional tal como nas outros transtornos funcionais não existe
nenhuma alteração estrutural nem bioquímica. Nenhum exame realizado
mostra alterações. Os médicos de língua inglesa chamam também, a esta
entidade Dispepsia Sem-Úlcera, designação que, felizmente, se usa cada vez menos. Também se chama a esta
afecção Dispepsia Idiopática para realçar que a causa é desconhecida.
QUAL A CAUSA DA DISPEPSIA FUNCIONAL?
A causa (ou causas) da Dispepsia Funcional é desconhecida. Sabemos que são transtornos, muito frequentes depois
dos 20 anos de idade. Sabemos que a ansiedade, a depressão e
alguns alimentos estão muitas vezes associados a esta afecção mas
não há estudos que provem que são a sua causa. Em cerca de 30%
dos casos há alterações da motilidade gástrica noutros casos há uma
percepção visceral exagerada que aumenta a sensibilidade gástrica a
estímulos como por exemplo a distensão.
Discute-se se haverá alguma relação entre o Helicobacter e a
Dispepsia Funcional. Na maior parte dos casos não parece que haja,
porque a erradicação do helicobacter, apenas resolve as queixas
duma minoria, de menos de 10%.
QUAIS OS SINTOMAS DA DISPEPIA FUNCIONAL?
Os peritos reunidos em Roma em 1990, em 1999. em 2006 e ultimamente em 2016 (ROMA IV) estabeleceram os
critérios para se fazer o diagnóstico de Dispepsia Funcional:
1-Dor ou desconforto persistente ou recorrente localizado na parte
superior de abdómen, sem relação com o exercício físico, 2-sensação de
enfartamento depois da refeições
3-saciedade precoce
4-sensação de queimadura no epigastro.
5-O início das queixas deve ter começado há mais de 6 meses e devem
ter existido nos últimos 3 meses.
Se a dor é o único sintoma podemos chamar á situação Síndrome da
Dor Epigástrica. Se, se destacam, os outros sintomas chama-se
Síndrome do Desconforto Epigástrico. A associação da Dispepsia Funcional com o Síndrome do Intestino
Irritável e a Doença do Refluxo Gastro-Esofágico é frequente. Grande parte dos doentes têm queixas associadas de
duas destas doenças ou mesmo das três.
COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO?
O diagnóstico baseia-se nos critérios de Roma mas, só se pode afirmar que
existe Dispepsia Funcional depois de a endoscopia alta mostrar que no
estômago não há alterações que justifiquem as queixas. Se necessário,
sobretudo nos doentes com mais de 40-45 anos, o estudo endoscópico deve ser
complementado com estudo hematológico, bioquímico e ecografia abdominal.
Uma possível doença orgânica do esófago, estômago, vias biliares,
pâncreas...deve se excluída.
Aspecto normal do corpo do estômago
TRATAMENTO DA DISPEPSIA FUNCIONAL
O nosso médico pode ajudar-nos muito, explicando-nos que esta afecção, é benigna, crónica, recorrente e
intermitente. O prognóstico é bom mas os sintomas podem ser incomodativos. O seu carácter crónico e a pouca
eficácia do tratamento pode levar quem sofre a andar de médico em médico, a recorrer a todas as medicinas
alternativas à procura duma cura que ninguém conhece e dum alívio que nem sempre se consegue. A angustia
aumenta à medida que vão aparecendo diagnósticos sem qualquer senso (bactéria
no estômago, gastrite nervosa, duodenite, ácidos, úlcera nervosa, vesícula
preguiçosa ... e outros disparates ainda maiores). Fazem-se exames em catadupa,
endoscopias quase anuais em que se encontram causas sem significado, análises
ao sangue em que se valorizam alterações sem significado clínico, ecografias que
depois descobrem quistos, angiomas do fígado e fígados gordos, pólipos da
vesícula etc tudo isto, achados sem significado clínico, mas que levam quem sofre a
gastar inutilmente rios de dinheiro e a dar valor a alterações que não têm valor
nenhum.
A Dispepsia Funcional é desde a primeira reunião de Roma em 1990 uma
entidade individualizada mas da qual desconhecemos a causa, a cura e
compreendemos mal os seus mecanismos fisiopatológicos, mas sabemos, que não
evolui para nada de grave e que, cerca, de 30% dos casos acabam por curar.
Muitos doentes conseguem durante as crises obter alívio da dor ou do desconforto ou do enfartamento se,
tomarem um medicamento antisecretor ou um procinético ou os dois juntamente.
Embora a erradicação do Helicobacter não traga benefício à maior parte dos doentes há, uma minoria, menos de
7%, que melhora.
Uma alimentação, durante as crises, com menos gorduras, poderá facilitar o esvasiamento gástrico, mas uma
alimentação muito restritiva fruto de variados maus conselhos nunca provou se útil. Devemos procurar fazer uma
alimentação variada. Apesar da sua benignidade a Dispepsia Funcional pode trazer desagradáveis consequências
sociais e económicas (custo de consultas inúteis, custo de medicamentos inúteis, custo de exames inúteis,
ausências ao trabalho) que o doente bem avisado e bem informado poderá evitar ou minimizar.
O nosso médico nesta, com noutras circunstâncias, deve ser o nosso orientador.
ESTÔMAGO